Prolongo
O cair das folhas secas de outono recheava o gramado, o enorme carvalho criava uma sombra perfeita sobre o ambiente em sépia, a grama jazia queimada pelo sol, acinzentada pelas folhas secas e podres, o ruídos das ondas do vento era escutado na vastidão, no infinito gramado, nuvens eram carregadas rapidamente cobrindo o céu de um intenso branco, o velho balanço criava um estranho barulho ao se balançar lentamente pelo vai e vem do vendo, sobre suas cordas.
Sobre a sombra do enorme carvalho deitava-se duas belas garotinhas, tomada pelo êxtase do momento, Pelo sufocar da brisa, pelo tedio do dia, e pelos amargos sentimentos trazidos da vida, aquele momento era único em seus dias, simples para algumas pessoas, mais único para ela, a mais velha de cabelos longos negros, olhos azuis e pele clara usava um belo vestido surrado amarelo do tempo, com seus babados desfiados e rasgados nas pontas, a renda envelhecida que cobria a meias rasgadas e desfiadas, segurava uma velha boneca de porcelana com o corpo feito de panos, cabelos compridos e negros, olhos de vidro castanhos, e face congelada de um breve sorriso, de um breve momento surreal de alegria, e magia.
Deitada sobre o velho carvalho, olhando o fim do mundo passar, observando o velho balanço rangido, e a pilha de folhas coletadas a algumas horas a esquerda da grande sombra do carvalho, o velho ancinho enferrujado e acabado, a menina mais velha apreciava a jovem amiga deitada ao seu lado, a jovem com em torno de 5 anos, cabelo ondulado, rosto triste, abatido, vestido feito de trapos, num tom que já foi vermelho, ela beijava a mais nova na testa, enquanto.
-Anna amo muito você, somos irmãs não somos – O sorriso sobre o rosto da mais velha, não era o suficiente para abrir a felicidade da garota mais nova.
-Sim somos Alessa – Dizia a pequena Anna a sua bela amiga Alessa.
-Então confio em você para cuidar de Bebê, ela é nossa filha.
O rostinho de Anna brilha ao ver sua amiga estender lhe a boneca, ela a abraçava como se fosse a coisa mais preciosa em sua vida, olhava para Bebê, com paixão, arrumava seu vestidinho velho e amarrotado, enquanto deixava seus olhos brilhar para a amiga e dizia.
-Brigado Alessa, cuidarei de Bebê, jamais deixarei ela ver coisas ruins, ou viver em um mundo ruim como o nosso.
-Sei que jamais deixar amiga, é por isso que confio Bebê a você, cuide bem dela, é nossa filha.
O abraço entre as três era eterno, uma união entre uma família, Bebê logo ao meio, com seu rosto congelado no tempo, seus olhos de vidros castanhos vibrantes, o momento parecia não acabar no infinito daquele lugar, na brisa de outono, na sombra do velho carvalho, sobre o som do balançar do antigo balanço.
*******
Como um choque no tempo, Anna olhava a escuridão, ela jamais entendera o que se passava, jamais entendera o que poderia estar vendo, o velho carvalho estava sem folhas, ao redor não existia luz, somente escuridão, o velho balanço balançava horrendamente, ele não era mais preso por cordas, mais sim por arrames farpados parecendo terem recém sido retirados de um corpo de algum animal, machados pelo negro do sague coagulado e pelo alaranjado da ferrugem.
Ele balançava, enquanto Anna aos seus 18 anos o olhava, o olhava de forma assustadora, lembrando de bons momentos como se tivessem sidos os piores, sobre o balanço uma mulher se balançava, tinha pele branca como a neve, cabelos longos e negros, vestia um vestido antigo, meio infantil, branco surrado, amarelado pelo tempo, com a bordas desfiadas e algumas costuras desfiadas, sua meia de renda branca estava desfiada, com alguns buracos aparentes, com um ar obscuro, a mulher usava uma mascara de porcelana, lentamente erguia a cabeça para Anna.
Sobre a mascar uma enorme rachadura do lado esquerdo que formava um enorme buraco de onde a escuridão revelava um olhar, o globo ocular era composto de uma íris de um azul penetrante, ao seu exterior era repleto de um vermelho sanguinário composto de diversos vasos sanguíneos rompidos em uma enorme hemorragia, a mascara não tinha movimentos, era a imagem parada no tempo do rosto de Alessa, a assustadora mulher olhava Anna que jazia assustada com o vestido sujo de sangue e uma faca em mãos e dizia com uma horripilante voz.
-Foi aqui Anna que você jurou proteger Bebê, jurou que jamais a deixaria ver tudo que ela viu.
Anna caia ao chão, enquanto a mulher da mascara de porcelana se levantava do balanço e caminhava lentamente como se estivesse forçando movimentos de andar, e erguia a boneca Bebê pelos cabelos.
-Olhe o que você fez.
Sobre o rosto da boneca uma enorme rachadura do lado esquerdo, colada com algum tipo de super cola, e todo o olho de vidro desse lado espatifado. Lagrimas corriam do rosto de Anna, enquanto via tal imagem e dizia.
-Ela é minha, devolva Bebê.
A mulher se virava de costa largava a boneca sobre o gramado morto, e andava rumo a escuridão, Anna corria em direção a boneca, a abraçava fortemente enquanto dizia.
-Ainda posso mudar tudo Bebê.
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